sexta-feira, 20 de junho de 2008

Vanishing Point



Vanishing Point é o filme americano perfeito para 1971. Kowalski é um perdedor, ex-fuzileiro no Vietname, ex-piloto de provas e ex-policial, expulso da corporação com desonra. Ele tinha uma namorada surfista que se afogou no mar, e agora é um entregador de carros que aceita levar um Dodge Challenger 1970 de Denver, no Colorado, para São Francisco, na Califórnia. Kowalski tem 15 horas para ganhar uma aposta e vai para a estrada. Vanishing Point é um road movie. Um filme B, de orçamento barato, despretencioso e clássico. Kowalski dirige dia e noite, tomando benzedrina e lembrando do que deixou para trás; a namorada antes da morte inexplicável, fracassos e uma vida sem sentido.

Nada parece justificar a motivação da personagem. É mais do que uma aposta e Kowalski sabe disso. A sua vida está naquela estrada, por isso ele segue em frente, sem respeitar limites de velocidade, ordens e barreiras montadas para detê-lo, inutilmente. Kowalski acelera e passa a ser alvo da polícia rodoviária, que o persegue de um estado para outro. No caminho, dá de cara com o que sobrou do sonho libertário da década anterior: hippies místicos pregando no deserto, uma motoqueira nua e misteriosa, um vendedor de cobras que o ensina a sair do deserto de Nevada, quando fica sem gasolina, e um DJ de uma rádio local. Super Soul é negro e cego, outro segregado na América de sonhos e oportunidades que não se realizaram - como Kowalski. O DJ capta pelo rádio as ordens policiais contra Kowalski, e passa a orientá-lo sobre todos os passos dos tiras raivosos e frustrados que estão na sua captura. O DJ dedica músicas a Kowalski e fala aos seus ouvintes sobre "a última alma livre de todo o planeta, o último herói livre da América, o centauro elétrico caçado pelos azulões fascistas e corruptos".

A polícia descobre que a sua primeira suspeita é infundada. O carro de Kowalski não é roubado. Super Soul pergunta: O que ele quer provar agora? Kowalski não quer provar nada. Não há o que provar em um jogo perdido, mas é preciso ir até o fim. A mídia interessa-se pela perseguição e passa a acompanhar o caso. O DJ é entrevistado, defende Kowalski e sua estação de rádio é destruída por policiais. Na última transmissão, Super Soul entende o “desejo de velocidade do infrator como a condição de liberdade da alma”. Perto de São Francisco, a polícia monta uma barreira na estrada com motoniveladoras, viaturas, helicópteros e um imenso aparato para pegar Kowalski. Jornais e emissoras de todo o país também estão presentes, além de uma infinidade de curiosos. Kowalski diminui e encara o espetáculo que está à sua espera. Ele não tem saída, é o que todo mundo pensa. É o ponto alto do filme.

A metáfora para o início dos anos 70 na América é perfeita: o fim do sonho no meio de uma guerra distante, além dos conflitos interiores de um desajustado – sempre uma personagem interessante na ficção norte-americana. Os 60 fracassaram, como Kowalski – e não era hora de um individualismo tão inesperado e transgressor. Ninguém sabia o que poderia acontecer depois da turbulência dos sixties. Vanishing Point é o lado B de Easy Rider, dirigido por Dennis Hopper em 69, e de Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni, de 70 – que já tinha feito Blow Up em 66. É o cinema que colocou o ponto final nos anos 60.

in Edonkers

1 comentário:

Unknown disse...

e os audiosalve têm um video inspirado no filme.